Uma maldita segunda-feira chuvosa. Diabos, todos os músculos
do seu corpo doíam, músculos que ele até desconhecia a existência. De quem foi
mesmo a estúpida ideia de voltar a malhar? Ah claro foi dele mesmo. Agora
estava mais quebrado que arroz de terceira, sentindo cada parte do seu corpo
reclamar pelo menor movimento. A ideia era voltar a ficar em forma, mas ele se
esqueceu de avisar ao instrutor de que não era de uma vez.
E pra terminar de foder com tudo estava sem livros pra ler
no horário do almoço, aquele dia era uma anunciação de tragédia declarada.
Começou suando na academia e ia terminar o dia pensando no cheiro de sua
ex-mulher. Porque diabos ela tinha que ter um gosto tão bom para perfumes?
Porque diabos ela tinha que ter partido daquela maneira?
Revirou as gavetas e achou um cigarro mentolado, era disso
que precisava, acabar com os pulmões, seis meses sem fumar e justo no dia que
voltou a malhar iria jogar tudo por água abaixo. Era foda como ele destruía o
caminho construído com tanto esforço por conta de um cheiro. Mas o que um
misero cigarro pode fazer? Afinal era só um. Que se tornaria em um maço, e
depois ia virar o vicio renascendo e matando seus pulmões. Ela diria que ele
não tinha jeito.
Amassou a porra do cigarro e jogou na lixeira, não ia
destruir seis meses pelo cheiro dela, não iria adiantar mesmo, tinha que se
manter calmo. Era só um cheiro, o melhor cheiro do mundo.
Deu risada ao lembrar que foi por causa do cheiro que tudo
começou ‘‘that smell’’, era uma porcaria de xaveco, mas quem ligava? Funcionou,
e isso era o que importava, ela estava naquele café parisiense da moda e ele de
passagem pela calçada seguindo para o bar, para uma bela bebedeira com os
amigos. Eram água e vinho. Ele água que passarinho não bebe, ela um belo
Cabernet de ótima safra. Ela bem vestida, vestido fino e salto quinze, óculos
escuros de grife e, sobretudo. Ele calça jeans ,tênis , camiseta de banda e uma
jaqueta de couro surrada. Os deuses definitivamente adoravam brincar com as
pessoas, ainda mais no inverno de Paris.
Ele disse por brincadeira: Comme tu sens bon mon amou (Como você cheira
bem amor). Ela respondeu séria e elegante um seco: merci (obrigado).
Mas ele era um cara de pau nato, nasceu pra fazer loucuras. Voltou e se
apresentou, como o homem da vida dela, ela riu, ele insistiu, depois de muita
insistência descolou o numero dela. A essa altura seu celular já tinha um
milhão de ligações perdidas dos amigos, mas ele não estava ligando, tinha que
conseguir mais sobre a garota chic que tinha um cheiro tão bom.
Cinco longos anos juntos depois do café, e agora só o fim e
o cheiro dela restava. Saiu de sua sala, sorriu para a secretária e disse que
iria almoçar, pelo horário estava mais pra café da tarde. Mas ele não se
lembrava de coisas simples como comer desde que ela se fora. Colocou o paletó e
foi para rua, caminhou a esmo e entrou no primeiro lugar que servia café que
encontrou. Pediu o bom e velho expresso com um pouco de chantilly, sentou-se na
parte coberta que dava acesso à rua.
Então percebeu que estava lá, no café parisiense, o amor era
um cão do diabo mesmo, depois de dois anos, dois malditos anos sem nem se quer
ver a mulher da sua vida. Ele estava lá, sentado na mesma mesa que a conheceu,
e só se deu conta tarde demais. Já estava lá, e só se deu conta tarde demais, o
cheiro dela já estava lá. Sorriu sem graça ao ouvir a voz doce e ao mesmo tempo
autoritária de mulher dizendo: Que cheiro bom amor, hum e sem cigarros, quanta
evolução. É verdade o que dizem as más línguas? Que foi aqui, que você conheceu e reatou o
casamento com a mulher da sua vida?

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