Arte por: Heverton Cavera
Era quarta-feira, gelada pra cacete.
Diabos! Ontem estava um calor dos infernos, e hoje esse
gelo. E ela estava ali, na frente dele, mostrando as belas formas, como uma
miragem, uma aparição. No alto de seus incríveis 1,58m sem salto, ostentando
curvas que fariam até mesmo os deuses perderem o juízo. Ainda não havia nascido uma palavra que
pudesse descrever aquela mulher de cabelos longos e negros, pele morena de sol,
que se movia em perfeita sintonia com o universo, e estava na sua frente.
Estava chovendo, a porra do tempo tinha virado e ele só
conseguia prestar atenção na boca dela, em como se movia, gesticulava. Em como
ela andava de um lado para o outro na casa recém-comprada, fazendo projeções de
onde e o quê ia ficar tal coisa, ou tal mobília.
Eles tinham voltado, e ele estava mais feliz que pinto no
lixo, ela tinha decidido dar uma nova chance pra eles. Tinha cuspido um monte
de condições. Mas foda-se, quem ligava? Ele não ia cumprir mesmo, e mesmo assim
ela ainda o amaria. Ela era dele de novo. Tinha voltado pra bagunçar a sua
vida, mudar seus planos e botar seu cachorro a perder com seus mimos
intermináveis. Mas era exatamente isso
que ele queria, que ele precisava.
Agora estavam ali, decidindo o que colocariam na casa que na
opinião dele era enorme. Mas ele não era louco de falar isso para a morena
baixinha, elegante e mandona com quem ele pretendia se casar.
Enquanto ela falava sem parar, ele a devorava com olhos
gulosos imaginando que peças intimas estariam por baixo do casaco e do vestido
de grife que ela usava. Cara aquilo só
poderia ser uma deusa. Ela tinha um ar inocente, um jeitinho de menina mulher,
que fritava o juízo dele.
Aquilo era demais pra ver, ele tinha fome, desejo, sede. Um
misto descarado de todas as sensações e sentimentos habitando dentro de um
mesmo corpo.
O antigo dono havia deixado alguns objetos para traz,
incluindo uma bela coleção de vinhos e whiskies no bar feito em madeira-de-lei
que adornava a sala de estar. Ele
caminhou até lá e escolheu um Casillero del Diablo na adega que estava
ambientado a 17°. Abriu a garrafa como quem entende do assunto, deixou respirar
por alguns segundos e serviu duas taças.
Enquanto ela falava algo sobre colocar um quadro de um tal
Romero Brito em cima da lareira, ele a abraçou por trás como quem tem intenções
mais maliciosas que ganhar um simples beijo. Entregou a taça pra ela e brindou
ao ótimo gosto dela, e ao péssimo entendimento de arte abstrata dele. Ela riu e
aceitou o brinde como um elogio particular.
Ele queria mais, ele queria pele, suor gelado, luxuria,
sacanagem da boa. Então partiu pro ataque, enquanto ela bebia devagar do vinho,
ele começou a beijar-lhe o pescoço, mordendo as orelhas de uma forma tão
delicada, que quem observasse não diria que ele era o cara vindo do subúrbio,
que conquistou o coração da princesa da aristocracia paulistana.
A princípio ela tentou afasta-lo, dizendo que aquilo não era
lugar, não era hora. Mas a essa altura ela já estava excitada, e mesmo dizendo
não, inclinava o pescoço pra que o seu homem (sim seu, pois ele a pertencia)
tivesse mais pele pra beijar, morder e fazer o que bem quisesse.
A taça foi colocada no apoio da lareira, mas se você
perguntasse depois eles não se lembrariam de terem feito isso. Estavam
envolvidos demais na fome e pressa de iniciarem a dança do tirar de roupas. Da
urgência do sexo, da pele, da fome do outro.
O casaco dela saiu em um puxão apressado, como em uma
mágica, Ela tirou a jaqueta de couro dele enquanto o beijava de uma forma
selvagem, ele se atrapalhava com os botões do vestido, na pressa, naquela
urgência de quem sabe que o mundo vai acabar amanhã. Cansou-se de tentar e com uma torção arrancou
os botões que faltavam.
Ela resolveu entrar na brincadeira e abriu caminho para o
peito dele da mesma forma arrancando os botões da camisa social branca que ele
estava usando. Foda-se se as roupas
estavam estragadas, eles queriam mesmo era se livrarem delas.
Enquanto ela se esforçava pra desvencilha-lo das suas calças
ele lhe abocanhava os seios com a fome de um flagelado, chupava, mordia,
lambia, numa miscelânea de desenhos que colocariam o Kama Sutra no chinelo.
Ela finalmente conseguiu em meio a gemidos e ronronares
tirar-lhe as calças e o que se deu depois foi uma sequencia de posições sexuais
em todos os cômodos da casa. Gozaram juntos, um depois o outro, ela, ele, uma
mistura que fazia todo e nenhum sentido.
E por fim lá estavam eles, nus, exaustos, em cima de um
tapete felpudo, tomado o que sobrara do Casillero. Ele com as costas
arranhadas, em frangalhos, ela apenas com o que sobrara da camisa social dele, com
as pernas bambas, ainda sentindo a sensação que a barba dele causara em suas
coxas quando ele estava entre suas pernas. Ambos felizes e satisfeitos por ela
ter decidido que valia a pena tentar de novo.
E hoje quem os vê casados, juntos e tão diferentes um do
outro. Não imagina que ele o sapo suburbano e ela a princesa paulista, são um
só quando estão na cama, no chão, ou em qualquer lugar que o tesão dela mandar.

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