segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A Morena




                                            Arte por: Heverton Cavera

Era quarta-feira, gelada pra cacete. 


Diabos! Ontem estava um calor dos infernos, e hoje esse gelo. E ela estava ali, na frente dele, mostrando as belas formas, como uma miragem, uma aparição. No alto de seus incríveis 1,58m sem salto, ostentando curvas que fariam até mesmo os deuses perderem o juízo.  Ainda não havia nascido uma palavra que pudesse descrever aquela mulher de cabelos longos e negros, pele morena de sol, que se movia em perfeita sintonia com o universo, e estava na sua frente.

Estava chovendo, a porra do tempo tinha virado e ele só conseguia prestar atenção na boca dela, em como se movia, gesticulava. Em como ela andava de um lado para o outro na casa recém-comprada, fazendo projeções de onde e o quê ia ficar tal coisa, ou tal mobília. 

Eles tinham voltado, e ele estava mais feliz que pinto no lixo, ela tinha decidido dar uma nova chance pra eles. Tinha cuspido um monte de condições. Mas foda-se, quem ligava? Ele não ia cumprir mesmo, e mesmo assim ela ainda o amaria. Ela era dele de novo. Tinha voltado pra bagunçar a sua vida, mudar seus planos e botar seu cachorro a perder com seus mimos intermináveis.  Mas era exatamente isso que ele queria, que ele precisava.

Agora estavam ali, decidindo o que colocariam na casa que na opinião dele era enorme. Mas ele não era louco de falar isso para a morena baixinha, elegante e mandona com quem ele pretendia se casar.
Enquanto ela falava sem parar, ele a devorava com olhos gulosos imaginando que peças intimas estariam por baixo do casaco e do vestido de grife que ela usava.  Cara aquilo só poderia ser uma deusa. Ela tinha um ar inocente, um jeitinho de menina mulher, que fritava o juízo dele. 

Aquilo era demais pra ver, ele tinha fome, desejo, sede. Um misto descarado de todas as sensações e sentimentos habitando dentro de um mesmo corpo. 

O antigo dono havia deixado alguns objetos para traz, incluindo uma bela coleção de vinhos e whiskies no bar feito em madeira-de-lei que adornava a sala de estar.  Ele caminhou até lá e escolheu um Casillero del Diablo na adega que estava ambientado a 17°. Abriu a garrafa como quem entende do assunto, deixou respirar por alguns segundos e serviu duas taças. 

Enquanto ela falava algo sobre colocar um quadro de um tal Romero Brito em cima da lareira, ele a abraçou por trás como quem tem intenções mais maliciosas que ganhar um simples beijo. Entregou a taça pra ela e brindou ao ótimo gosto dela, e ao péssimo entendimento de arte abstrata dele. Ela riu e aceitou o brinde como um elogio particular.

Ele queria mais, ele queria pele, suor gelado, luxuria, sacanagem da boa. Então partiu pro ataque, enquanto ela bebia devagar do vinho, ele começou a beijar-lhe o pescoço, mordendo as orelhas de uma forma tão delicada, que quem observasse não diria que ele era o cara vindo do subúrbio, que conquistou o coração da princesa da aristocracia paulistana. 

A princípio ela tentou afasta-lo, dizendo que aquilo não era lugar, não era hora. Mas a essa altura ela já estava excitada, e mesmo dizendo não, inclinava o pescoço pra que o seu homem (sim seu, pois ele a pertencia) tivesse mais pele pra beijar, morder e fazer o que bem quisesse. 

A taça foi colocada no apoio da lareira, mas se você perguntasse depois eles não se lembrariam de terem feito isso. Estavam envolvidos demais na fome e pressa de iniciarem a dança do tirar de roupas. Da urgência do sexo, da pele, da fome do outro. 

O casaco dela saiu em um puxão apressado, como em uma mágica, Ela tirou a jaqueta de couro dele enquanto o beijava de uma forma selvagem, ele se atrapalhava com os botões do vestido, na pressa, naquela urgência de quem sabe que o mundo vai acabar amanhã.  Cansou-se de tentar e com uma torção arrancou os botões que faltavam. 

Ela resolveu entrar na brincadeira e abriu caminho para o peito dele da mesma forma arrancando os botões da camisa social branca que ele estava usando.  Foda-se se as roupas estavam estragadas, eles queriam mesmo era se livrarem delas. 

Enquanto ela se esforçava pra desvencilha-lo das suas calças ele lhe abocanhava os seios com a fome de um flagelado, chupava, mordia, lambia, numa miscelânea de desenhos que colocariam o Kama Sutra no chinelo.
Ela finalmente conseguiu em meio a gemidos e ronronares tirar-lhe as calças e o que se deu depois foi uma sequencia de posições sexuais em todos os cômodos da casa. Gozaram juntos, um depois o outro, ela, ele, uma mistura que fazia todo e nenhum sentido.

E por fim lá estavam eles, nus, exaustos, em cima de um tapete felpudo, tomado o que sobrara do Casillero. Ele com as costas arranhadas, em frangalhos, ela apenas com o que sobrara da camisa social dele, com as pernas bambas, ainda sentindo a sensação que a barba dele causara em suas coxas quando ele estava entre suas pernas. Ambos felizes e satisfeitos por ela ter decidido que valia a pena tentar de novo.

E hoje quem os vê casados, juntos e tão diferentes um do outro. Não imagina que ele o sapo suburbano e ela a princesa paulista, são um só quando estão na cama, no chão, ou em qualquer lugar que o tesão dela mandar.