Vivenciei uma situação um tanto inóspita, agoniante, aflitiva,
diria que amarguradamente letal a sanidade dos que se dizem comuns, normais e sóbrios
de verdades. Pude experimentar por três infindáveis horas a agonia de ser o
silêncio em meio a um mundo de vozes, sim, eu fui. Eu fui o surdo, fui o mudo,
fui à incompreensão de gestos mal feitos, afoitos e aflitos. Doeu-me na alma,
no ego, no corpo, a incapacidade de formar palavras proposta pelo projeto, me
deu uma visão mais ampla do que estava ao redor, do que estava aí e ninguém
quis ver. Fez-me enxergar locais e planos com outro prisma, saber que a Itália pode
esperar, pode nunca chegar, saber que às vezes é preciso aprender a viver na
Holanda, que a Holanda pode ser o lugar
que você deveria estar mesmo não querendo. Trocando em miúdos, participei de um
projeto que me fez sentir na pele a aflição de ser um surdo, alguém que precisa
ter voz e não tem, alguém que precisa dançar com as mãos e se fazer entender,
aprender a andar em um grupo, em família, em corpo. O silêncio dos inocentes,
dos que precisam ser ouvidos, e entendidos e muito mais importante, serem
respeitados. Quando fui surdo, senti que não era nada, quando fui mudo senti
que me faltava muito pra ser no mínimo certo, justo. Quando fui descobrir que
ainda precisava ser.
