sábado, 10 de novembro de 2012

QUANDO FUI SURDO











Vivenciei uma situação um tanto inóspita, agoniante, aflitiva, diria que amarguradamente letal a sanidade dos que se dizem comuns, normais e sóbrios de verdades. Pude experimentar por três infindáveis horas a agonia de ser o silêncio em meio a um mundo de vozes, sim, eu fui. Eu fui o surdo, fui o mudo, fui à incompreensão de gestos mal feitos, afoitos e aflitos. Doeu-me na alma, no ego, no corpo, a incapacidade de formar palavras proposta pelo projeto, me deu uma visão mais ampla do que estava ao redor, do que estava aí e ninguém quis ver. Fez-me enxergar locais e planos com outro prisma, saber que a Itália pode esperar, pode nunca chegar, saber que às vezes é preciso aprender a viver na Holanda,  que a Holanda pode ser o lugar que você deveria estar mesmo não querendo. Trocando em miúdos, participei de um projeto que me fez sentir na pele a aflição de ser um surdo, alguém que precisa ter voz e não tem, alguém que precisa dançar com as mãos e se fazer entender, aprender a andar em um grupo, em família, em corpo. O silêncio dos inocentes, dos que precisam ser ouvidos, e entendidos e muito mais importante, serem respeitados. Quando fui surdo, senti que não era nada, quando fui mudo senti que me faltava muito pra ser no mínimo certo, justo. Quando fui descobrir que ainda precisava ser.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Coisas Velhas






                   

     Coisas Velhas




Saudade dos velhos tempos, do puro e despreocupado rock n roll. Não dessa vida morna, sem cor, sem voz, sem cordas para nos atar ao que é bom. Saudade do gosto que as coisas costumavam ter. Do que a amizade significava, da união que nos atava, e hoje isso tudo é apenas cinzas de um papel que o vento já soprou, e os meus pecados não me condenam, e as mentiras não me envenenam. Vejo como vidro, tão transparente, mesmo que grite que é tudo escuro preto breu. Palavras às vezes não dizem nada, e as que não falam queimam mais que brasas atiçadas nos ventos da boca que te beijou. O peso dos anos não é mais que vinte toneladas, nada tão pesado quanto traição da canção que embalava, e hoje eu só quero dormir em paz. Um desabafo desajeitado, ou um beijo com sabor de cravos, eu fico com o segundo e deixo o resto fazer companhia pra o que ficou pra traz.