sexta-feira, 29 de julho de 2011

Poesia pra manter-me vivo

  "Mais uma garrafa vazia, um livro terminado, um amor acabado. Mais uma poesia... Sem doces na boca, sem língua com língua, só voz rouca e veneno pra retina."

  Escrever ainda me consola mais que o psicólogo liquido que me é vendido no bar. Pendurando meus problemas nos imãs de geladeira e sorrindo para o dia que ainda teve preguiça de nascer. Encaro infernos diários, como quem encara viagem de sogra. Quem tem poesias , não se alimenta de sobras. 
  E poesia tem muitas caras, tem cara de amigos, cara de amor. Vem com cara de perigo, e com cara de blues, de cerveja gelada, de criança sorrindo pela cara ter sido pintada. Vem com voz de sono, e de desejo de madrugada, de impulso e atitude impensada . Poesia tem cara de sexo, de sacanagem e vinho tinto. Viagem sem mala. Poesia tem a minha cara e também a tua. Poesia é história floreada, é a beleza nua que ainda não foi mostrada.

Falta

  
Sempre simpatizei por tudo que não tinha sentido. Pelo que é impuro, imperfeito, que desperta o libido. Sempre me permiti o pecado, o impulso , e o errado. Mas ao contrário do que pensam,não me deixo dominar pelo álcool, e as vezes sinto falta de um amor. Sinto falta do sorriso da menina, de paixões mais alucinogénas que L.S.D. e beijos mais viciantes que cocaína.
  Tenho lembranças remotas de momentos brilhantes: Do nascer do sol na praia, dos beijos da estrangeira de cabelos tangerina. Da conversa de bar e contar estrelas no rosto da menina. Sinto falto do que tenho, do que tive e dos sonhos que ainda vou ter. Falta do mar, do jazz e do que costumávamos ser. Saudades de mim e de você. Eu sinto falta , da falta de tudo isso... Falta da falta que a falta faz.

Entre tudo, fico com o nada


Entre as lógicas e sistemas , fico com a simplicidade da mesa de um bar. Entre a ponderação sobre os problemas mundiais e suas soluções, me permito o amanhã imprevisivel. Não necessitando de nada, me forço a querer tudo. Como naufrago que se agarra a um pedaço de madeira, me permito essa avareza vital, que me impele ao inferno das palavras que ainda me mantém vivo ou semi-morto. Na verdade já mão importa. Ainda mantenho meu pensamento, ainda mantenho a minha sanidade a base de whisky e vestígios de amor.
 Por certo que amor é vendido em garrafas, com no mínimo doze anos envelhecidos num barril de carvalho... E eu o bebo, me embriago em seu sabor, bebo pelo gosto, bebo pelo prazer, e em raras noites de lucidez , bebo para dormir. Para evitar de sonhar. Bebo para parar de tentar.